“eu, minha filha e todas as mulheres do mundo”, relato de Regilane Fernandes

Abaixo, segue mais um relato emocionante que nos enviaram por e-mail, sobre mãe e filha, preconceito, violência, luta e sobre a importância “de ser Mulher e de ser COLETIVA”.

*

Prezadas companheiras,

Sou mãe da Bruna, menininha que aparece em destaque nas fotos do facebook da Marcha, no sábado.

Uma foto linda em que aparece tranqüila e bela, com o Espelho de Vênus pintado no rosto.

Símbolo da luta feminina, feminista.

Mais que isso: símbolo da trajetória de algumas das nossas sábias antecessoras.

Símbolo que nos une as nossas ancestrais.

Símbolo de suas vidas-mortes marcadas pela violência moral, psicológica, física, sexual… mas, também marcada por sua força, resistência, pioneirismo, humanidade, cumplicidade com Gaia, a Grande Mãe.

Foi com essa consciência que levei minha filha Bruna à Marcha.

Como momento de conexão dela com suas ancestrais e com suas contemporâneas… todas mulheres… E, em especial naquele dia, mulheres cercadas por homens que não têm medo de expressar sua metade feminina, feminista, não-machista.

Pois bem, uma amiga muito querida me mostrou a pouco a foto da Bruna no face.

Me emocionei com tudo.

A  foto.

O “tema” alusivo a educação como processo libertário.

Os comentários carinhosos.

Infelizmente, no meio deles, uma moça (não vou chamá-la companheira porque esta AINDA não é) colocou como comentário apenas a palavra “ridículo”.

Vejam, não tenho facebook por opção.

Então, escrevo este email pra dizer de alguma forma a esta moça que eu entendo sinceramente sua atitude.

Parece-me que ela é, como infelizmente muitos e muitas ainda são, um ser alienado e alienante, que não conseguiu passar pelos processos que resignificam nossa visão e nossa forma de ser e estar no mundo.

Se tivesse conseguido isso, saberia que ridícula é a fome.

Ridícula é a guerra.

Ridícula é a quantidade de crianças que sofrem violência doméstica sob o consentimento silencioso de uma sociedade que teima em fechar os olhos para as atrocidades cometidas no ambiente familiar (não vou chamar “seio familiar” porque “seio” é alusivo a peito, colo. E peito é sagrado, é lugar de aconchego, amor, cuidado e não de violência).

Ridículo, moça, é ficar em casa parada enquanto mulheres em todo o mundo morrem mutiladas, estupradas, violadas. Violência que, na grande maioria das vezes, lhes causa estrago mais no espírito que no corpo.

Ridícula é essa sociedade de classes que nos torna muitas vezes sectários/as, egoístas, desumanos/as.

Ridículo é não perceber o significado daquela Marcha…

Ridículo é não perceber que o Brasil mudou e está mudando.

E precisamos acompanhar e fazer juntas essa mudança.

E mudou tanto que é hoje governado por uma MULHER.

Mulher que sofreu muito, por ser cidadã consciente de direitos.

Mulher que foi torturada em tempos de ditadura pra que você usufruisse hoje exatamente disso que está fazendo: o direito da livre expressão.

Mulher que também foi, um dia, tachada de ridícula, terrorista, anarquista e, talvez, até vadia.

Ridículo seria eu, como mãe da Bruna, ficar calada diante do seu comentário infeliz, moça.

E não lhe dizer essas coisas como uma oportunidade de lhe trazer pra lucidez de ser Mulher e de ser COLETIVA!

Ridículo seria eu não acreditar que uma hora dessas essa sua cegueira vai passar e você vai conseguir, assim como eu, rir e indignar-se na medida certa que a vida espera de nós.

(Regilane Fernandes)

Foto: Alexandra Martins / Marcha das Vadias DF 2012

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6 pensamentos sobre ““eu, minha filha e todas as mulheres do mundo”, relato de Regilane Fernandes

  1. Tatiana disse:

    Regilane,
    Linda resposta. Também levei minha filha na marcha, pelos mesmos motivos que você. E, lembro da sua menininha lá… Assino embaixo de tudo o que vc escreveu. Ridículo é se calar diante das atrocidades…
    Abraços, Tatiana

  2. THAIS SANTOS DE CARVALHO disse:

    Parabéns! Educar sua filha com exemplo de luta e solidariedade é a sua maior contribuição para um mundo sem preconceito e sem violência.
    Muito obrigada pela atitude.
    Thais.

  3. Gib disse:

    “E mudou tanto que é hoje governado por uma MULHER.

    Mulher que sofreu muito, por ser cidadã consciente de direitos.

    Mulher que foi torturada em tempos de ditadura pra que você usufruisse hoje exatamente disso que está fazendo: o direito da livre expressão.

    Mulher que também foi, um dia, tachada de ridícula, terrorista, anarquista e, talvez, até vadia.”

    Serio mesmo? Fazendo apologia a uma mulher que se uniu a grupos armados marxistas nos tempos do regime, que tinham a intenção de derrubar o governo para implantar um governo comunista alá Cuba?
    Ela é ridicula, terrorista, anarquista e é vadia, ao cubo.
    Os generais salvaram o Brasil da igual distribuição de miserias (comunismo) e de uma possivel invasão Americana caso eles falhassem.

  4. marianomonkey disse:

    Ok, Vadias são todas boazinhas, negros são todos bonzinhos, canalhas são canalhas… e agradecem por mais facilidade que as “vadias” darão para eles ao pregar o sexo um número ilimitado de parceiros..

    Já os homens de bem, que trabalham, estudam, sustentam suas muheres e filhos (casados ou separados), tratam a todos com dignidade e que NUNCA atraem as “vadias”, sofrerão mais um pouco, por serem “opressores machistas”..

    Parabéns, mulheres, por esta manifestação inteligente PELO DIREITO DE SER CANALHA TAMBÉM, assim como os canalhas!!

  5. marianomonkey disse:

    Ah, e homossexuais também, são todos bonzinhos e exemplos de caráter para a sociedade de hoje!! ao contrário dos pais de família, estupradores e opressores em potencial!

  6. Roberta Viana disse:

    Lindo relato… Foi graças a ele que despertei de um estado letárgico!!!

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