NOTA PÚBLICA SOBRE EXPULSÕES NA MARCHA DAS VADIAS-DF 2013

Antes de mais nada, gostaríamos de explicitar as razões pelas quais não publicamos esta nota anteriormente. A Marcha das Vadias – DF (MdV-DF) é composta por um grupo muito grande e diverso de mulheres que se organiza de forma horizontal para a construção da marcha. Entendemos que as expulsões realizadas, sempre polêmicas pela sua complexidade, demandavam uma discussão aprofundada e de qualidade. Assim, garantiríamos que a nota fosse o resultado de uma construção coletiva, consciente e responsável, e não de um posicionamento leviano ou hierárquico, partindo de poucas.

Esse debate foi energicamente realizado desde o dia de realização da Marcha (22/06) e se estendeu durante toda a semana seguinte. Tivemos também o auxílio de profissionais que trabalham com populações em situação de rua, que muito nos ajudaram nesse processo de reflexão e a quem agradecemos profundamente pelos diálogos e críticas extremamente válidas, que apenas começaram.

Para entender o ocorrido na Marcha das Vadias DF de 2013, é preciso compreender um pouco da nossa organização, que é dividida nas seguintes comissões: debates, comunicação, agitação/mobilização, trajeto e segurança.

Sobre a comissão de segurança da Marcha das Vadias do DF

O objetivo principal da comissão de segurança é garantir que a Marcha seja um espaço de conforto para as mulheres que dela participam e, também, de solidariedade feminista (tendo em vista que, desde a primeira marcha, recebemos ameaças recorrentes de agressões e “estupros-surpresa”). Para isso, utilizamos desde a primeira marcha (em 2011) o “escracho” como instrumento de ação, o qual consiste na publicização e expulsão de agressores por meio de gritos e buzinadas.

Frisamos que essa estratégia é compatível com os sentimentos que motivaram e possibilitam, ainda hoje, a própria existência da Marcha enquanto movimento (uma participação política múltipla em significados). Entre incontáveis outros fatores, os sentimentos de empoderamento, solidariedade e autorrealização (denominado por quem nos oprime como vadiagem, putaria ou sem-vergonhice) é parte fundamental da energia da MdV-DF. Nossa comissão de segurança preserva tal energia.

Quantas vezes os depoimentos de mulheres vítimas de violência são colocados em dúvida? Quantas vezes as escolhas não compatíveis com a cultura do assujeitamento feminino são utilizadas para nos culpabilizar pelas diversas violências que sofremos? Quantas vezes a cultura sexista e racista soma-se às discriminações de classe, região, idade, religião e outras na expressão de violências às mulheres?

Essas perguntas foram levantadas, escritas e gritadas em cartazes, corpos e vozes durante a Marcha das Vadias-DF de 2013. No entanto, a mesma problematização não foi feita em relação aos possíveis agressores. De fato, na hora da marcha, quando uma integrante da comissão de segurança ouve a buzina, segue imediatamente para o local da agressão no sentido de apoiar a ação das demais companheiras. Não questionamos a ação das outras integrantes na hora por entendermos que, se a buzina foi apertada, uma violência sexista ocorreu. Seguimos a compreensão de que “mexeu com uma, mexeu com todas”.

No caso de mulheres agressoras, decidimos conjuntamente a metodologia de dialogar com elas para que se retirem da marcha, já que, naquele ambiente dividido por vítima e agressora, a primeira se encontraria muitas vezes incomodada e com receio de continuar marchando. Essa decisão foi tomada depois de muitas discussões e de nos depararmos com agressoras na 1ª MdV-DF (2011). Naquela fase, salientamos um recorte de gênero fundamental, mas ainda não tínhamos pensado sobre outras ramificações, como homens que estivessem em situações mais vulneráveis e fossem agressores.

Durante a marcha, orientamos xs participantes a denunciarem caso houvesse algum tipo de violência sexista. Abaixo, o panfleto distribuído ao início da Marcha 2013:

Panfleto Orientações Marcha

Sobre a expulsão de homens negros em situação de rua

Diante da exposição de um vídeo sobre a expulsão da Marcha de um homem negro, em situação de rua e aparentemente sob efeito de álcool e/ou outras drogas, foram feitas inúmeras críticas, acolhidas seriamente por nós. É importante explicar que a situação ocorrida não foi completamente apresentada no vídeo e alguns relatos. O vídeo mostra apenas um fragmento e um ângulo do que aconteceu e propõe uma interpretação limitada da cena.

Algumas críticas como “o homem só estava levantando a camisa” ou “elas não deixavam ele sair dali” nos soaram simplistas diante, inclusive, do próprio vídeo, que mostra o homem em questão levantando a blusa e, também, tentando abaixar a bermuda, sendo agressivo. Mostra, igualmente, o círculo feito pela mídia, que formou uma barreira impedindo a saída dele da Marcha.

Minutos antes do momento captado no vídeo, o mesmo homem já havia gritado para uma manifestante: “levanta sua saia, quero ver sua bucetinha”. No momento da chegada da comissão de segurança ao local onde ele estava, o homem xingava uma manifestante, ameaçando bater nela com a muleta. Diante da situação, uma escolha foi feita: a buzina foi acionada e houve a tentativa de retirá-lo da Marcha –  ação padrão da comissão de segurança nesses três anos de Marcha das Vadias, como comprovam as imagens abaixo:

Dois momentos de expulsão de agressores na Marcha das Vadias-DF: a primeira em 2012 e a segunda nesse ano, minutos antes da expulsão do homem em situação de rua. (Fotos: Túlio Fortuna e Nilton Kaz)

Dois momentos de expulsão de agressores na Marcha das Vadias-DF: a primeira em 2012 e a segunda nesse ano, minutos antes da expulsão do homem em situação de rua. (Fotos: Túlio Fortuna e Nilton Kaz)

Esse homem foi expulso exatamente da mesma forma que um fotógrafo branco havia sido expulso poucos momentos antes, por ter oprimido e constrangido algumas manifestantes (na foto acima, à direita). O que motivou o aperto da buzina não foram questões raciais, mas sim o fato de ele ter sido considerado um agressor naquele momento. Temos inclusive outro vídeo, filmado mais de perto e em outro ângulo, com os momentos que antecedem a gravação divulgada. Nele, há cenas em que o homem pega no pênis e ofende as meninas que estão à sua frente, como fica explícito na imagem abaixo:

Print do vídeo da expulsão

O vídeo acima mostra que quando várias mulheres se reuniram buzinando e gritando para que ele saísse, ele virou de frente pra elas, pegou no pênis e ofendeu-as repetidas vezes. Em seguida, virou-se de costas para as mulheres e, ao notar a presença de muitas câmeras à sua frente, levantou a blusa e começou a mostrar a barriga. No momento em que ele fez menção de abaixar a bermuda e expor a genitália, uma senhora negra disse a ele que não fizesse isso e levantou em sua frente um cartaz (que denunciava a polícia racista e o genocídio da juventude negra). Ele bateu no cartaz, virou-se de costas e tentou se retirar dali, mas a barreira de fotógrafxs e cinegrafistas que se formou em frente à cena o impediu. É importante ressaltar que não foram as manifestantes que o impediram de sair, visto que nós pedíamos justamente pra que ele se retirasse: quem impediu a passagem dele foram xs fotógrafxs da imprensa. Ele fez sinal para que xs fotógrafxs abrissem passagem, mas ninguém se moveu. Foi então que uma integrante da comissão de segurança abriu passagem entre xs fotógrafxs e ele conseguiu sair. Optamos por não divulgar esse outro vídeo para não expor ainda mais a identidade desse homem, que já foi exposto a milhares de visualizações pela ação da MdV e pela repercussão do vídeo na internet, mas nos dispomos a apresentar o vídeo aos grupos que tiverem interesse em ter uma visão mais ampla do ocorrido e colaborar conosco nos debates e reflexões sobre o caso.

O que percebemos é que a violência sexista praticada por esse homem não foi problematizada na maioria das críticas às quais tivemos acesso. Foram críticas que pareceram desconsiderar ou minimizar a possibilidade de opressões e agressões sexistas que ocorreram antes do ponto em que o vídeo começou a ser gravado. A invisibilização e a hierarquização de uma opressão em detrimento da outra pode ocorrer quando uma rede complexa de opressões entra em conflito, tornando possível que uma das opressões anule as demais. Por outro lado, esse foi também o grande erro de ação da Marcha das Vadias do DF, no caso específico desse homem em situação de rua. Um erro que tem como origem uma série de outros erros estruturais na própria formação da MdV-DF, como, por exemplo, a dificuldade na desconstrução de privilégios que fazem parte do cotidiano de muitas de nós, o que muitas vezes nos leva a reproduzir as opressões que buscamos combater.

Considerando que aquele homem também é constantemente oprimido – pela sua classe, sua situação de rua, sua saúde debilitada e sua cor – não poderíamos agir de maneira a igualá-lo a um agressor qualquer.  Tivemos alguns cuidados durante a passagem da marcha, como o de proteger as pessoas que dormiam no chão da rodoviária para que não fossem pisoteadas pela multidão ou de avisar antecipadamente todxs comerciantes da rodoviária que ali passaria uma marcha feminista. Acreditamos, portanto, que faltou dialogar também com a população em situação de rua, pois, ao marchar pelos espaços públicos da cidade, estamos também entrando no ambiente em que essas pessoas vivem. Não percebemos que a situação de vulnerabilidade na qual ele se encontrava deveria ter sido motivo suficiente para que ele não fosse jogado na mesma “caixa homogênea” em que colocamos todxs xs outrxs agressorxs. 

Na verdade, em três anos de Marcha, essa “caixa” nunca havia sido devidamente problematizada. Por isso entendemos que todas as críticas, inclusive aquelas com as quais não concordamos inteiramente, têm sido importantíssimas para a nossa caminhada de luta por um mundo livre de opressões. Sabemos que é uma longa caminhada e que passa por processos constantes de (des)construções, auto-reflexão e auto-crítica, além de muito diálogo com outros movimentos. Mas é uma caminhada que precisa ser construída coletivamente, procurando superar as resistências apresentadas por nossas identidades e subjetividades.

Entendemos que a ação de expulsão com buzinas (“o escracho”) foi excessiva em relação a esse homem, na sua situação de vulnerabilidade, e que devemos  repensar a forma de abordagem de possíveis agressorxs em situações similares. Também entendemos que essa reflexão não deve ser apenas sobre como a organização da MdV-DF e as manifestantes agiram, mas deve alcançar também como isso se reflete na nossa sociedade, em especial pela postura da mídia e da PM na situação.

No momento da expulsão do fotógrafo branco, minutos antes, a mídia não fez a mesma cobertura que ocorreu na expulsão seguinte. Quando o homem branco foi expulso, em vez de uma barreira para encurralá-lo, uma repórter da grande mídia tentou entrevistá-lo para ouvir “seu lado da história”, o que a comissão de segurança impediu. Nessa ocasião, a polícia cercou o fotógrafo branco para “protegê-lo” de um eventual ataque da Marcha. Nota-se, mais uma vez, a presença do racismo estrutural que fez com que o branco fosse protegido e acolhido pela polícia e pela mídia, que nada fizeram para proteger o homem negro marginalizado: ele, ao contrário, foi exposto pela mídia e criminalizado pela ação da PM.

Sobre a Marcha das Vadias no DF

Estamos nas ruas há três anos. Inicialmente, éramos apenas um grupo de mulheres na sua maioria branca e classe média que sentiram a necessidade de ir às ruas para denunciar as mais variadas formas de machismo e violência contra a mulher. Já no segundo ano, percebemos a necessidade de dialogar de maneira mais ampla.  Além de termos agregado mais diversidade de mulheres (especialmente lésbicas, mulheres mais velhas, negras e mulheres da periferia), percorremos caminhos de estratégias para que a marcha fosse cada vez mais plural e atenta à existência dessa pluralidade, e foi justamente o que tentamos trabalhar na nossa campanha fotográfica “Feminista por quê?” e no vídeo irônico “Ai, que vadia”. Mas as recentes críticas colaboram para nos mostrar, mais uma vez, as nossas falhas de alcance, assim como o debate com mulheres trans e outras formas de vivenciar a identidade de gênero.

Em 2013, sentimos a urgência de nos posicionarmos diante de alguns temas mais específicos, como o Estatuto do Nascituro e a legalização do aborto, no vídeo “O corpo é meu”. Quisemos reivindicar cada vez mais o fim da cultura do estupro (no vídeo “Não estupre!”) e o nosso direito à cidade, com a campanha fotográfica “A cidade é nossa”, nos somando às manifestações que ocupam as ruas de todo o país.

Nesse esforço de desconstrução de privilégios/opressões e pensar diversidades, tivemos a criação de alguns Grupos de Trabalho para o aprofundamento de discussões sobre raça e lesbiandade, como o GT de mulheres negras e o GT de mulheres lésbicas, porém sem muito sucesso. Tivemos falhas de diálogo e, desde o ocorrido na última marcha, assumimos a postura de extinguir o GT de mulheres negras, para que seja evidenciado que o racismo opera na racialização de todas as mulheres: brancas, negras, indígenas, entre outras. Por isso, entendemos que o debate racial deve ser abraçado por toda a coletiva, com aprofundamento teórico, respeitando as experiências de cada mulher negra que faz parte da coletiva.

Algumas de nós – mulheres negras – nos sentimos profundamente magoadas pelas maneiras antifeministas com que outras companheiras negras nos acusaram, questionando não apenas nosso feminismo como também nossa militância e nossa composição dentro da Marcha. Questionando também nosso livre arbítrio de poder compor um movimento que seja plural, que se expressa com a diversidade de muitas mulheres e que caminha com altruísmo e sororidade com as diversas companheiras que participam de outras coletivas e movimentos sociais. Por outro lado, enquanto mulheres negras, sentimo-nos extremamente felizes com a disposição de outras companheiras negras em colaborar com nossas reflexões, inclusive, expondo seus processos de construção identitária, tanto dentro quanto fora da militância, e ponderando sobre as conjunturas de uma luta anti-racista entre diferentes pertencimentos etnicorraciais.

Aos poucos, estamos nos descobrindo como um coletivo mais permanente, com a necessidade de ações e reflexões para além da organização da marcha em si. Neste ano, por meio de um longo processo de amadurecimento interno, nós conseguimos construir nossa Carta de Princípios, com o intuito de sistematizar algumas discussões já consolidadas. Desde 2011, temos desenvolvido atividades feministas que ultrapassam o dia do ato: oficinas, cineclubes, retomes, debates, encontros, notas, seminários e conversas. De forma muito espontânea, fomos nos sintonizando.

Para muitas de nós, a Marcha das Vadias foi o primeiro contato com a militância social ou com os feminismos. Ainda temos muito a aprender e refletir sobre o combate aos preconceitos para que consigamos construir coletivamente um outro mundo, livre de opressões. Acreditamos que reconhecer nossos erros é o primeiro passo para esse aprendizado. Mas entendemos, também, que o que nos move é o combate a uma violência concreta, que vivenciamos e sofremos cotidianamente, e deslegitimar nossa luta e indignação, ou minimizar a opressão que sofremos, não pode ser o caminho para verdadeiras transformações sociais.

Pretendemos, com essas reflexões, dar um passo adiante na consolidação dessa coletiva de mulheres feministas. Para isso, contamos com apoio e abertura para dialogarmos com todxs aquelxs que foram críticxs à nossa atuação, nesse e em outros episódios. Podemos estar em frentes de batalha diferentes, mas, quando se tratar do combate às opressões e à desconstrução das desigualdades sociais, queremos somar forças sempre que possível.

Marcha das Vadias-DF, 2 de julho de 2013

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73 pensamentos sobre “NOTA PÚBLICA SOBRE EXPULSÕES NA MARCHA DAS VADIAS-DF 2013

  1. Priscila disse:

    aprendemos muito na militância, muitas de nós não tem noção da opressão que nos cerca, isso que aconteceu deve servir de reflexão e aprendizado, muito a construir e a desconstruir. E parabéns aos que estão sempre de mentes abertas para aprender e discutir é só nessa ação-reflexão, dialética que mudamos

    • Negro Bem Dotado disse:

      Porque a mulher pode ir na marcha pelada e o homem não pode mostrar o pau?

      Cadê a tal igualdade pregada pelo feminismo, sou homem, e no meu corpo mando eu.

      • Larissa disse:

        Alguma mulher por acaso foi na marcha com a buceta de fora??
        Entenda a diferença seu babaca.
        Homem anda sem camisa, assim como as mulheres também podem e muitas foram na marcha assim.
        Se você não sabe, peito não é órgão sexual.
        Além de babaca é burro…

  2. Michelle disse:

    Acho q o mais interessante é q tem q ser salientado:fulano branco, fulano negro. Que ridiculo hein? Chamando os outros de sexista e racista, quando na verdade quem está mais preocupado com os rótulos? E olha a cara daquele povo lá.. acho q muitas tem q procurar um psicologo para ver se o problema está em si ou na sociedade..

  3. Lara disse:

    Eu vi esse fotógrafo vários momentos da marcha. Vi que ele puxava assunto assunto com as meninas e fazia comentários sobre a roupa que elas usavam. Dizendo ele era elogio, mas eu já achei suspeito, porque os comentários não cabiam na situação ele passava atropelando as pessoas. Houve algum outro episódio além desses?

  4. Andra Cerqueira disse:

    Parabns pela nota! Muito boa! Fico impressionada com a Marcha amadureceu tanto em apenas 3 anos de existncia!!! Arrepiei!!!! bjssssssssssssssssssssss

  5. O “Feminismo” racista, transfobico e que fecha os olhos para deficiências óbvias deve ser sempre questionado, como de fato foi por alguns dias e espero que continue sendo. Ótimo que a organização da marcha tenha reconhecido o erro. Que sirva para que outros grupos feministas abram espaços para debates sob a perspectiva de outras formas de opressão e que a luta não cegue.

  6. Tônia disse:

    Eu admiro muito a Marcha das Vadias pela liberdade que busca para nós mulheres!
    Mas, sinceramente, discordo que um “agressor” deva ser tratado diferente por sua cor ou condição social. Da mesma forma que o tratamento não deve se tornar mais severo por esses fatores também não deve ser atenuado.
    Quem garante que, mesmo em situação de rua dito vulnerável, se uma das meninas estivesse sozinha e encontrasse um sujeito desses, ele não teria a agredido de fato?
    Não acredito nessa história de culpar a condição social ou a etnia por crimes de assedio, falta de caráter independe desses fatores; e também não acredito que um cara de 14 anos é menos culpado do que um de 18 se o crime cometido foi o mesmo.
    Já pensou se um crime de estupro fosse considerado mais grave se cometido contra uma virgem e perdoado se a vítima fosse uma prostituta? Não são todas mulheres com direito de escolha?
    Vítima é vítima independente da cor, idade, condição social ou opção sexual. O mesmo julgamento deve valer para um agressor!
    Não falo isso apenas nesse caso específico, mas de uma forma geral cada qual deve ser responsabilizado pelo sua ação e não pela sua condição. Lutar por uma sociedade mais justa é imprescindível, ajudar pessoas necessitadas é um ato nobre, mas deixa-las usar sua condição para justificar assédio ou qualquer outro crime é contribuir com o próprio delito.
    É apenas a minha opinião…

    • Acho que a nota faltou citar que o homem possuía uma deficiência física, usava muletas e possuía claros sinais de doença mental. O agressor não deve ser penalizado ou ter a carga de suas atos atenuada devido a sua etnia ou condição social, no caso especifico o questionamento é sobre suas condições físicas e mentais que deveria ter sido mencionado também 😦

      • Joana disse:

        Na boa, eu estava lá. E dias depois passei perto do pátio e o cara tava no sinal pedindo dinheiro. Problemas mentais? Da onde vc tirou isso? Claro que a situação de rua e drogadicao torna a pessoa vulneravel a algum surto ou disturbio, mas nao percebi isso nele. Pra mim ele poderia só estar doidao. Ou nao… Vai saber. Na minha opinião, supor q o cara tenha alguma doenca mental é incorrer em estereótipos e revitimizacao.

      • Rê_Ayla disse:

        no caso específico, sobre condições físicas e mentais, para mim continua sendo agressor e eu não vou ficar ou passar perto só porque ele tem uma deficiência física e, dessa forma, coitadinho, devo ter pena e perdoar sua agressão?… Ah, por favor!
        Ele assediou sua filhinha? Violentou alguém? Assaltou somente? Ah, tadinho, é deficiente… A questão da deficiência física e/ou mental, em condição social vulnerável, é algo que deveria, junto com uma lista imensa de coisas, estar sendo tratada seriamente pelo governo e por seus burocratas, para que essas pessoas tivessem atendimento e tratamento médico adequado para sua deficiência, educação condizente, sistema de transportes mais inclusivo… e não apenas dando vagas em concursos! Não é alguém, enquanto agredida, que no momento da agressão, deve parar, colocar a mão na consciência e pensar sobre a injustiça que está cometendo… Isso é algo que deveria estar sendo tratado e pensado de forma séria lá atrás, para que este indivíduo não chegasse a situação de rua, portando-se como agressor. Ele é vítima. E ninguém nesses ‘mimimis’ por aí sai do papel inquisidor para apontar que o verdadeiro agressor dele é o Estado, o sistema, não um grupo de mulheres. Esse grupo de mulheres, como todas as outras mulheres do mundo, é agredido diariamente de diferentes formas… algumas mais e outras menos sérias. Elas devem parar, quando houver uma agressão, para prestar atenção em seu agressor? Me poupe.
        E o debate não deveria estar sendo o ‘mimimi’ de acusar um movimento de ser falso feminista, ou de ser racista, ou de qualquer outro ‘mimimi’. Acusação, como alguns textos que li por aí, deveria ser inexistente – e substituída pelo diálogo, pela crítica construtiva, de modo a unir outros grupos, ser mais inclusivo para todos os oprimidos nesse sistema. FOCO minha gente, foco.

        A regra é clara, sou mulher, branca, cis, classe média e, portanto, proibida de expressar opiniões sem parecer preconceituosa (apenas sendo irônica, já prevendo os ‘mimimis’)

      • Continuo achando sim que é necessário discernimento com relação as atitudes. Como eu disse lá em cima a luta não pode cegar. Diante de determinadas resposta a única coisa que enxergo é uma necessidade cada vez mais de espaços de estudo sobre o que é ser negro, trans, gay, pobre, periférico. Só encontro discursos inflamadissimos no meio de pessoas que não enxergam os privilégios que possuem. Só o tom dos comentários já mostra ser impossível manter um dialogo. O fato da pessoa pedir no farol é o que? Afirmativo pra vagabundo? Que o cara tem totais condições de discernimento? E supondo que ele esteja pelno de suas faculdades mentais a atitude foi educativa em que? Por favor, vamos avaliar os argumentos.

      • Rê_Ayla disse:

        Onde eu disse que não é necessário discernimento com relação as atitudes?

        Pois é…

        Releia. Tá escrito em português. Para se unirem em vez de ficar de mimimi e acusações. Para haver diálogo.
        E sim, para reagirem se forem agredidas.
        Na hora da agressão.
        Depois… o depois cada um escolhe o que fará. Se vai refletir, ou continuar sem foco… ou até mesmo cego.

      • Rê, como unir forças se as pautas que nos são pertinentes são ignoradas? Como tornar o feminismo amplo desconsiderando a voz das outras? Acho que a nota fala exatamente sobre isso, sobre assuntos que nunca foram levantados. Quem sabe daqui pra frente? Mas para chegar a este ponto alguém precisou chamar a atenção para o assunto. E tem muitos outros assuntos que precisa vir a baila e que AINDA não surgiu, eu espero que ele não apareça depois de algum outro “erro” de percurso.

        Obs* E Rê, eu sei o que eu escrevi, entendi bem o que escreveu e a releitura não se fez necessária. Enquanto houver nos movimentos (sejam eles quais forem) pessoas que se acham mais “esclarecidas” a ponto de se tornarem arrogantes não haverá possibilidade alguma de progresso 😉

      • Joana disse:

        É sim, concordo com vc.
        Por isso acho que ficar supondo uma coisa ou outra nao ajuda muito…me soa estereotipado (estereotipado, no sentido dos discursos que escutamos todos os dias e que representam todo e qualquer morador de rua como o vagabundo, o viciado em crack, o ’22’ (problemas mentais), o marginalizado, o fodido ou o coitadinho).
        Acho que o que estou querendo dizer é que me incomoda nossos achismos ancorados nesses estereótipos… que mantém revitimizações. e que eu li nao só no seu comentário, mas em vaaaaaarios outros.

        Claro que devemos levar em conta todo contexto social e estrutural em que o episódio se insere, mas também acho que precisamos enxergar as agencias desses sujeitos (em situação de rua) que forjam no dia-a-dia mil estratégias de sobrevivência. Estratégias essas que por vezes são criativas, subversivas e políticas… mas que por vezes somente reproduzem violências e violações.
        E devemos reconhecer que a produção e reprodução de valores e desvalores se dá nas relações sociais. Nessa relação especifica: a marcha foi racista, ele foi sexista (e isso independente das representações imagéticas que temos dos dois lados)

        Voltando ao seu comentário, eu não poderia dizer ou afirmar se a ação foi ou nao foi educativa, simplesmente pq eu nao sei como ELE absorveu a situação. (no dia la do semáforo, ate pensei em falar …mas achei que poderia ser inoportuno e tb porque esse feedback teria que ser problematizado e pensando… e tb nem sei se seria o caso de faze-lo…)

      • Léo disse:

        e a mulher negra vítima de estupro, tem que ficar calada, só porque o homem é negro e morador de rua?

      • Joana disse:

        Comentei que o vi no sinal só pra salientar que o vi novamente, em outra situação. e que ele nao pareceu ter ´problemas mentais’, como vc havia suposto. mas pelo visto vc supoe muitas coisas… “afirmativo pra vagabundo?” afff… fique bem claro que quem esta falando isso é vc. nao sou eu, ok?

      • Joana, dizer que o cara estava DOIDÃO também não é suposição?

    • Tonia, comentário espetacular!!!
      Não pelo fato de você se opor ao explicitado (pois quando terminei de ler a nota, estava totalmente de acordo), mas pelo forma de exposição de fatos, relação dos assuntos e bons argumentos… Coisa que raramente vemos nas redes sociais.
      Acho extremamente importante esse tipo de debate, pois nos tira da inércia e nos faz enxergar de outra expectativa.
      Estou muito feliz em fazer parte desse grupo. Uma simples nota se tornou em um aprendizado. Um simples comentário me fez mexer na cadeira e pensar um pouco.

    • luiza disse:

      isso ae, tonia. machista nenhum passará, nem meu avô de 90 anos, nem o nóia perneta, nem ninguém. as mulheres ali foram vitimas, chega de passar a mao em cabeça de agressor!

  7. Plino Santos disse:

    1) Foi evidente a diferença de tratamento para o NEGRO e para o BRANCO. Apesar do texto bem articulado, não dá para disfarçar a prática racista do grupo.
    2) O corpo é de vocês, mas, a vida da criança no ventre da mulher NÃO FAZ PARTE DO CORPO DELA.
    3) O livre aborto não pode ser a solução para mães que foram irresponsáveis na adoção de métodos contraceptivos.
    4) Não vejo onde peitos, e bundas de fora, possam contribuir para atingir seus pleitos (que são legítimos). Vocês são um péssimo exemplo para as crianças (meninas) que assistem à passeata e só deixam a marca da promiscuidade. Que tal fazerem a passeata após a meia-noite, ao lado do CONIC?
    5) Quais são as metas concretas que vcs pleiteiam? Sem mudança objetiva das leis, vocês não vão mudar a cultura de ninguém. Estão apenas queimando o filme das mulheres de maneira geral, notadamente, aquelas que pensam, as que não apoiam o movimento. Há maneiras bem mais inteligentes de atingir seus objetivos, mas fico com a impressão que o maior objetivo é mesmo mostrar peitos e bundas.

    • Rê_Ayla disse:

      Plínio, como o corpo é nosso e, portanto, o ventre, como parte do corpo, é nosso. E nós queremos despejar o inquilino.
      Então façamos o seguinte:
      tire a criança do nosso ventre e dê um jeito de fazê-la crescer em outro lugar ué.

      Pergunta: as mães irresponsáveis na adoção de métodos contraceptivos se auto-fecundaram? Por que você não dá um jeito de colocar a criança para crescer numa chocadeira logo?

      Que obsessão essa sua com peitos e bundas hein… Você também olha assim para as meninas novinhas, quando as imagina caindo na promiscuidade?

      • oooo disse:

        Ótima maneira de tentar fazer o cara se sentir mal ao mencionar “bundas e peitos”. Ele levanta uma questão importante é óbvia (afinal, muitas estavam ali mostrando tais partes de seus corpos) e você logo muda o discurso do cara, como se ele tivesse pecado ao olhar pra vocês da maneira que vocês estavam fazendo a passeata.

      • Plino Santos disse:

        Caramba, não tem ninguém com um mínimo de inteligência pra me responder?

      • Plino Santos disse:

        Rê_Ayla, vendo a sua frase “despejar o inquilino”, creio que devo trocar meu dicionário pra melhor responder a vc. Nesse caso, de simplesmente despejar o inquilino, creio que vc deveria fazer o que sua mãe fez: tomar um laxante.

    • catarina disse:

      A sua opinião não nos interessa nenhum pouco.

      • Plino Santos disse:

        Acho que 99,99% da população brasileira não se interessam pela opinião e pela “causa” falida de vcs, também. O que eu vejo é um bando de mulheres de sexualidade reprimida, mal-resolvidas em suas questões de gênero, de sexualidade e de afetividade, aproveitando para poderem se liberar. Ficam risíveis e ridículas. Alguém precisava dizer isso pra vcs.

      • felipe disse:

        Sou homem e apoio totalmente o movimento. Quem precisa se desvencilhar dessa moralidade implantada é você Plino. Você julga sem conhecer as pautas do movimento, isso é ir além da própria experiência de compreensão. Amigo, a verdade é uma só, o corpo é dela e ela faz o que ela quiser com ele. Você peca fazendo uso do pensamento metonímico, usando ideias pré concebidas que de fato não se assemelham a ação real do grupo. Enquanto existirem pessoas como você esse movimento será imprescindível …

      • Plinio Santos disse:

        Como eu disse, 99,9 % da população acham esse movimento ridículo e risível, bem semelhante a um desfile carnavalesco tragicômico.

    • Nat disse:

      Que vontade de dar uma buzinada no seu ouvido.

    • Juliana disse:

      Plínio, não acredito na grosseria como fermento de movimento social, mas sim em achar uma maneira de trazer os homens para nossa luta, e fazer com que eles lutem por nossa causa sentindo que é causa deles também. Tal qual fazem com as mulheres e é no suporte feminino que está uma das grandes forças do sexismo. Então vou te explicar, sobre essa questão de se o feto faz ou não faz parte do corpo da mulher:

      Faz parte sim, porque:

      1) O zigoto depende para sobreviver, de colar em alguma parte do corpo da mulher, se possível o útero. Ali, receberá seu sangue, que contém sua alimentação. Também depende dessa ligação a respiração, oxigenação do zigoto. É no corpo da mãe que ele excreta o que não absorveu dela. Por isso a mulher come mais quando grávida. Por isso não dá para tirar o zigoto e desenvolve-lo em uma máquina. Sim, ele faz parte do corpo da mulher, tem em comum as mesmas veias trocando sangue.
      2) Por essa ligação, se possível uterina, o zigoto reconhecerá a mãe depois de nascido (sabe quem é a mãe dele e quem não é). Pois sentiu seu líquido amniótico quando na placenta, e cada mulher tem um líquido único. A mesma coisa com o leite.
      3) Depois de nascido, o bebê precisa do leite materno pois dele receberá anticorpos da mãe, necessários para mantê-lo vivo e que ele sozinho não produz ainda.
      4) Ainda tem outra questão, a dos problemas com fator RH, quando acontece a doença de Rhesus, isto é, o sangue do feto é tomado pelos anticorpos do sangue da mãe.

      Então mãe e feto são uma simbiose.

      • Plino Santos disse:

        Simbiose, Juliana, implica a existência de, pelo menos, DUAS formas de vida distintas. Veja na enciclopédia, por favor. Vc mesma fez a minha defesa. Se são duas pessoas, envolvidas, o bebê não é parte do corpo da mãe, pois é uma pessoa a parte. Se o bebê fosse parte do corpo da mãe, teríamos apenas UMA PESSOA.

      • Juliana disse:

        Você está se atendo apenas a uma palavra, expressão, que pode ter significado diferente a depender do dicionário, edição, ou apenas da época e local de publicação. Está querendo apenas ganhar a questão usando argumento apenas filosófico. Porque contra argumentos empíricos, testados, não há o que fazer né? Em qualquer livro de biologia ocidental (porque sabe-se lá que espécie de biologia se faz em um país teocrático islâmico, onde o corpo feminino sequer pode ser tocado por um biólogo homem) você pode testar o que eu expliquei. Não precisa acreditar em mim. E bom, quanto a ser pessoa ou sei lá o que, isto é debate do Estatuto do Nascituro, que dá essa classificação jurídica ao zigoto, incorrendo em absurdos como prioridade de herança, mesmo a genitora tendo outros filhos nascidos. Ninguém aqui defende que o zigoto seja um VIP. Você sabe que quando disse pessoa não me referia a isso, apenas a um termo genérico.

    • Melissa disse:

      “”Plino Santos disse:
      3 de julho de 2013 às 7:32

      Acho que 99,99% da população brasileira não se interessam pela opinião e pela “causa” falida de vcs, também. O que eu vejo é um bando de mulheres de sexualidade reprimida, mal-resolvidas em suas questões de gênero, de sexualidade e de afetividade, aproveitando para poderem se liberar. Ficam risíveis e ridículas. Alguém precisava dizer isso pra vcs.”””

      Uau! Parabéns! Você entendeu perfeitamente! Somos mulheres cuja sexualidade é reprimida pela sociedade, cuja a identidade de gênero nos é forçada goela a baixo e nós estamos aqui, justamente, lutando para nos libertar. Infelizmente, ainda, a maior parte da população não acha que é uma causa válida, mas, estou realmente impressionada que ao menos você, Plínio, entendeu o que queremos dizer 😉

      • Plinio Santos disse:

        Não é mostrando peitos e bundas que vcs vão se libertar, Melissa. Frases do tipo “SEXO ANAL CONTRA O CAPITAL” pintada nas costas de uma das manifestantes, só de calcinha e sutiã, e outras ainda mais ridículas, como vi em várias das sua marchas, não vão levar a libertação alguma. Não mudam nada na cabeça de ninguém. Afinal, quem é o público alvo dessas manifestações? Para pessoas que pensam, que tem senso crítico e que formam opinião, vocês passam apenas a ideia de promiscuidade, falta de objetivos e falta de unidade de pensamento entre as participantes..

  8. Clara Campoli disse:

    Pra constar: enquanto jornalista e colega da repórter citada na nota, preciso comentar essa questão. Não tenham dúvidas, nós somos feministas e estamos completamente de acordo com a pauta da Marcha das Vadias, mas isso não quer dizer que a profissão não exija que a gente vá buscar o fato. Ir atrás do fotógrafo agressor para saber da boca dele o que aconteceu não é uma atitude machista, mas um fundamento da profissão: temos que ouvir o outro lado da história, sempre. A ironia feita na nota é triste, porque nós realmente devemos fazer isso para que toda a discussão na reportagem seja legítima. Depois de falar com ele, a repórter teria que conversar com representantes da Marcha para saber o lado de vocês.

    Como repórter, estou decepcionada não só com a MdV, mas com as movimentações sociais recentes de maneira geral, que não percebem como a mídia pode e deve ser uma boa aliada nas causas que defendem. Outra coisa: a “grande mídia” para a qual a repórter citada trabalha é um jornal que dá todo apoio à causa feminista, do direito da mulher, do combate à cultura de estupro e à causa gay. Enfim, a grande mídia não é necessariamente a vilã ou a inimiga. Saibam: a maioria dos repórteres que vão para a rua acreditam nas causas que vocês defendem. Hostilizar a jornalista foi, no mínimo, anti-democrático. Vamos pensar nisso também? Jornalista também é feminista. 🙂

    • Rosana Oliveira disse:

      Clara Campoli.
      Olá.
      Se você observar a crítica não foi apenas para xs jornalistas, mas para a PM também porque o tratamento diferenciado dado as duas situações foi gritante.

      Não vi UM jornalista perguntando para o homem em situação de rua quais eram suas opiniões e porque ele estava sendo expulso da marcha. Eu estava la nas duas situações e posso te dizer que tinham milhões de câmeras na cara do homem em situação de rua e ninguém saiu correndo pra fazer uma entrevista com ele ou perguntar a opinião dele sobre o fato.

      Por outro lado o fotógrafo branco, além de ter sido defendido pela PM que fez um cordão de isolamento em volta dele, teve vários jornalistas correndo de encontro a ele para conseguir uma entrevista.

      Só fico me perguntando o porque.

      Entendo que seja o seu trabalho Clara, entendo mesmo. entretanto acredito que a mídia possa ser uma aliada dos movimentos em defesa de minorias, mas CERTAMENTE a grande mídia não é.

      • Clara Campoli disse:

        Oi!

        Então, mas aí já é opinião minha né. Eu acho que a imagem da expulsão do rapaz negro fala por si só. Mas sou eu achando aqui, ó! E acho também que todos têm que ser ouvidos. O fotógrafo branco, o morador de rua, e as mulheres da Marcha.

        Mas a MdV só se pronunciou sobre o caso dias e dias depois, a matéria sai no dia seguinte… Enfim, essas questões são muito complexas, mas acredito que diálogo resolve, hostilizar jornalista não. Principalmente nós, que vamos para a rua trabalhar e não mandamos em nada dentro das redações. Somos funcionários. E bom, por falar em grande mídia, tenho orgulho de dizer que trabalho para um jornal que defende sim a causa gay e a causa feminista, que a nota chamou de “grande mídia”. Sei lá, não é tudo oito ou oitenta nesse debate sobre jornalismo, é preciso acompanhar melhor, em vez de simplesmente jogar todo mundo no mesmo balaio e chamar de grande mídia…

  9. Anna disse:

    Isso é muito bizarro! Aqui em Porto Alegre jamais passou pela cabeça de ninguém a necessidade de ter instrumentos de proteção! O.o O panfleto, a “comissão de segurança”, o protocolo… tudo isso é muito estranho pra mim…

    • Rosana Oliveira disse:

      Anna aceito a sua crítica sobre os protocolos, no entanto é importante perceber que isso é fruto de organização, não? Quero ou não a marcha das vadias do DF é a maior do Brasil.
      Sei que a comissão de segurança funciona desde a primeira marcha, mas nos últimos anos temos recebido ameaças e algumas mulheres foram abordadas indo ou saindo da marcha então optamos por obtermos um certo nível de segurança.

  10. […] Aqui a nota da marcha e a seguir minha opinião. […]

    • Rodolfo Rods disse:

      pois é anna, mas aqui as meninas foram ameaçadas por um grupo de skinheads q disse que ia pra marcha E tb por uma marcha organizada, pelo facebook, da uma olhada, chamada marcha do s cafagestes que falou que ia passar por cima de geral. elas tão bem certas em terem uma comissão de segurança e instrum.proteção. comum em grupos feministas de auto proteçao.

    • Plino Santos disse:

      Quer apostar quanto, que tem a mão política da esquerda, aparelhando esse movimento do DF?

      • Rosana Oliveira disse:

        Aposto o quanto você quiser Plínio. Temos muito trabalho para que isso não ocorra e muitos movimentos que se diziam parceiros racharam conosco porque não aceitamos aparelhamento.
        As pessoas são bem vindas como indivíduos, que muitas vezes não podem separar suas identidade da ideologia de seus partidos, no entanto, para a construção da marcha, somente indivíduos.
        Isso na Marcha DF, não sei como funciona em outros estados.

  11. A iniciativa de olhar para os próprios erros e entender o que há de construtivo nas críticas é algo que falta em muitos grupos, diante disso já estão de parabéns.

    Porém deixo duas observações:
    “para que seja evidenciado que o racismo opera na racialização de todas as mulheres: brancas, negras, indígenas, entre outras”

    A meu ver esse é um erro que leva ao não reconhecimento do racismo, é como quem diz que “não há negros ou brancos, há humanos” isso torna invisível o preconceito que está enraizado.

    Outro ponto: das demais atividades que estão se construindo além da marcha. As que citaram nos textos foram muito boas, porém, é necessário pensar em ações que possam ir “além dos muros do movimento” senão, corre-se o risco de ter o grupo encerrado em si mesmo.

    • Rosana Oliveira disse:

      Discordo dessa sua fala Edvaldo:

      A meu ver esse é um erro que leva ao não reconhecimento do racismo, é como quem diz que “não há negros ou brancos, há humanos” isso torna invisível o preconceito que está enraizado.

      Eu entendo que o que a nota expressa é a presença do racismo em todos os lugares e pessoas, pois a sociedade é toda embebida em racismo. A base da nossa sociedade é toda composta por racismo e nossas estruturas construídas a partir dessa base, então ninguém tem como fugir, todos somos modificados de alguma forma por esse racismo estrutural, seja por obter privilégios seja por ser oprimido. Acredito que o intuito seja demonstrar que o racismo é algo ainda mais complicado de buscar desconstruir, reforça sua presença, não invisibiliza.

      Concordo inteiramente com o “outro ponto”.

  12. Ana_Luiza disse:

    “Despejar o inquilino”… Ah! como lamento por sua mãe não ter tido a coragem de te “despejar” quando vc era apenas uma substancia informe. Que pena que ela trouxe à luz um ser desumano, egoísta e cínico.

    • Joao disse:

      bom então se vc deseja que a mae de alguem tivesse feito o aborto de uma pessoa, ou melhor, de uma “substancia informe”, por essa lógia, vc está concordando com o aborto? Me parece que sim

    • Rodolfo Rods disse:

      Então se a mãe dela tivesse despejado, podia? vc é a favor do aborto. valeu

    • Plino Santos disse:

      Há casos, onde o aborto deve ser permitido legalmente: no caso de estupro ou de uma doença grave e irreversível do feto ou em caso de risco de vida da mãe. Então, quando falamos em aborto, estamos falando na interrupção da vida de um ser humano. No caso da mãe da Rê_Ayla, caso ela quisesse remover a “substância informe”, não seria aborto, seria só uma lavagem intestinal.

      • Rosana Oliveira disse:

        Suponho que essa teoria possa ser aplicada ao seu cérebro, Plinio Santos… ou a ausência de um. =D

      • Plinio Santos disse:

        Pôxa, desculpa aí Rosana, eu nem imaginei que falando da Rê_Ayla, fosse mexer tanto assim com vc. Será que vc não deveria estar em outro movimento, em vez desse, das vadias?

  13. CientistaPolitico disse:

    “Onde você oculta sua própria violência?” Uma das grandes dificuldades ao se abordar o tema da violência envolvendo situações críticas em grupos de idéias e práticas libertárias remete à própria visão utilizada nestas discussões. A violência acaba sendo sempre projetada sobre um inimigo comum, raramente sendo problematizada na esfera do si mesmo. Assim, o combate ao machismo e ao racismo termina limitando-se ao desenvolvimento de instâncias de controle (autodefesa, escrachos, denúncias, etc.), que, apesar de extremamente importantes, conduzem a análise comumente ao proceder de um outro sem refletir de maneira aprofundada a própria dimensão constitutiva violenta das relações e a dinâmica interna dos grupos. O agressor se torna o estranho, o externo, o ameaçador, e o eu mesmo raramente se vê como capaz de condutas agressivas e excludentes. O preconceito não é pensado como algo da esfera interna, uma possibilidade para todos nós, mas uma resposta contrária perpetrada pela outro. A nota pública do movimento infelizmente se debruça sobre o mérito factual do ocorrido, de maneira um pouco defensiva, ao pensar e analisar com o interesse voltado para construir uma versão oficial do ocorrido, sem demonstrar um avanço mais radical no sentido da autocrítica. Não é raro que isso igualmente ocorra em episódios de agressão sexual dentro dos movimentos, onde o foco acaba sendo a exposição dos envolvidos, pelo mesmo interesse factual, e a discussão se limite às versões do acontecido, simbolicamente relacionando a violência como uma prática inerente e incluso restrita ao agressor, que deve assim ser diferenciado do restante do coletivo não apenas pelo respeito a vitima mas sobretudo pelo prevalecimento da coesão interna, e não como uma medida pedagógica ou proativa (como se as próprias reações do coletivo, como a condescendência ou o silenciamento com quem sofreu o abuso, não fossem também violentas). Assim, o agressor dificilmente será suficientemente representado pelo eu, ou pela namorada, o companheiro, ou o próprio pai, mas sempre um agente externo a ser combatido, tão externo quanto se pensar essa diferença. Apesar de ser construída coletivamente, uma nota oficial infelizmente dilui os elementos instigantes que a discussão poderia gerar, e unifica no posicionamento do coletivo marcha diferentes vozes que, assim mesmo, através de suas distintas visões e experiências, poderiam construir uma discussão bem mais interessante. O aprender só é possível de maneira aprofundada e aberta pela contradição prática, e não pela eliminação desta, que ocorre na reificação do discurso.

  14. Fox disse:

    A opinião que vou dar é de alguém que não foi à marcha desse ano e que só viu o vídeo e leu muito atentamente os textos sobre o ocorrido.

    Concordo que não dá para pegar um indivíduo em situação de rua, provavelmente sob efeitos de drogas, e jogar no mesmo balaio que um agressor da classe média, branco que reside no topo da pirâmide social. Concordo com o reconhecimento de vcs de que deveriam ter pegado mais leve e rechaça-lo de forma menos vexatória, contudo estou enxergando um viés no raciocínio meio complicado. Me corrijam se eu estiver errada.

    O morador de rua em questão também é uma minoria social, tb sofre a opressão de uma sociedade desigual e etc, mas isso é o suficiente para inocentá-lo de suas ações sexistas? Vejam bem, concordo que a forma de abordagem a ele deveria ser diferente, mas quando as mulheres tentam se justificar se desculpando por algum excesso cometido contra o agressor (pq independente da cor dele, da condição dele, do estado mental dele, do estado físico dele, ele É um agressor), não estaríamos minimizando a opressão vivida por nós para dar mais reconhecimento à opressão de outrem? Por mais que os questionamentos sejam válidos, que o reconhecimento de que errou é sempre importante, não consigo não enxergar aí o tom da mulher que se culpa por ter agido com possível excesso contra aquele que a agride. Não é muito diferente da mulher que apanha do marido, mas acha que dar queixa é demais por ele ser viciado em álcool ou outra substância. Ou a mulher que é estuprada por um desconhecido na rua, mas releva porque foi um doente mental que o fez. Ou a mulher que termina um relacionamento, passa a ser perseguida e não dá queixas por se sentir culpada por ter feito o outro sofrer, como se o sofrimento alheio justificasse a perseguição.

    Não tenham dúvidas de que quem é contra o feminismo e particularmente a marcha das vadias, vai usar isso contra vcs. Pq eles mesmos acham que o sofrimento das mulheres é nanico perto do sofrimento do morador de rua (aliás, que se fodam as mulheres para eles, né). Sério, precisa dar mais pano para manga a essas pessoas? Então assim, acho que a experiência foi válida para aprenderem a como abordar caso uma situação assim volte a acontecer, mas chega de se justificar, pq os nossos opressores não tem cor, endereço e nem classe social. Se formos relativizar tudo isso lutaremos apenas contra o homem branco, classe média/rico e heterossexual, já que os outros tb são minorias como nós (e nisso quem se fode são as mulheres em situação de rua e/ou de extrema pobreza que com certeza são vítimas desses indivíduos, que todos relevam os erros por estarem em situação vulnerável).

    • Rê_Ayla disse:

      Também não fui à Marcha. Mas tenho a mesma opinião, apenas a coloquei de outra forma.

    • catarina disse:

      Tenho a mesma opinião que você e a Rê_Ayala. Confesso que estou chocada com a reação de várias feministas.

      Então se um homem agressor fizer parte também de minorias oprimidas as mulheres devem aguentar agressões caladas? O que é isso, minha gente? Pra mim isso não faz o menor sentido.

  15. “Tivemos falhas de diálogo e, desde o ocorrido na última marcha, assumimos a postura de extinguir o GT de mulheres negras, para que seja evidenciado que o racismo opera na racialização de todas as mulheres: brancas, negras, indígenas, entre outras. Por isso, entendemos que o debate racial deve ser abraçado por toda a coletiva, com aprofundamento teórico, respeitando as experiências de cada mulher negra que faz parte da coletiva.”

    Gente alguém me explica esta parte do texto, por que eu achei confusa.

    Primeiro o que vcs querem dizer que “o racismo opera na racialização de todas as mulheres: brancas, negras, indígenas, entre outras.”

    Interpretei como se todxs sofressem racismo, é isso mesmo?

    Segundo: Extinguir o GT de mulheres negras é um erro. As mulheres negras tem demandas diferentes e precisam se organizar separadamente assim como as lésbicas e as trans, e desta organização separadas elas trazem para o restante suas demandas. Todas discutirem o racismo não empodera a mulher negra, elas precisam deste espaço.

  16. […] Leia também: Nota Pública sobre as expulsões na Marcha das Vadias 2013 […]

  17. Ana disse:

    Encontrei uma discussão sobre como a definição de “agressores” da marcha é racializada e talvez interesse para as discussões: http://ibejifrida.wordpress.com/2013/06/25/com-quantos-paus-e-buzinas-se-faz-o-feminismo-branco-parte-ii/

  18. catarina disse:

    Para as feministas criticando essa expulsão da Marcha: parem de discutir o sexo dos anjos e se concentrem na situação factual.

    O que as mulheres assediadas deveriam ter feito na hora? Se o procedimento padrão não está adequado pra algumas feministas? Fingir que não estavam vendo nem ouvindo? Ficarem caladinhas? Como muitas mulheres já estão acostumadas a fazer? Por quê?

    Porque o agressor é negro?

    Ou porque ele é deficiente físico? Ou porque ele é morador de rua?

    Ah por favor. Que ridículo.

    Sinto muito, EU não deixaria de reagir à uma agressão por causa de nenhum desses motivos.

    Só o que faltava. Sou agredida, mas antes de reagir vou analisar a situação do agressor para ver se eu posso reagir ou não, e como.

    NÃO MESMO.

  19. Sofia disse:

    “A invisibilização e a hierarquização de uma opressão em detrimento da outra pode ocorrer quando uma rede complexa de opressões entra em conflito, tornando possível que uma das opressões anule as demais”.

    Esse trecho resume muito bem o problema por trás de tudo isso. Tenho observado nos últimos anos uma certa tendência à complacência com atitudes machistas e misóginas vindas de homens negros, seja na vida cotidiana, seja nas manifestações culturais (como no caso do funk e suas letras misóginas ou no caso das falas machistas de ídolos negros como MC Catra). Chegamos ao ponto extremo em que se um cara negro ameaçar uma mulher, a reação enérgica desta à sua ameaça será vista como puro preconceito racial e/ou de classe.

    Enfim, fica a sensação de que, quando o agressor é homem e negro, a violência que pratica contra uma mulher fica invisibilizada. É o machismo se aproveitando de uma boa causa, a luta contra o racismo, para criar um espaço onde é permitida, impunemente, a violência contra a mulher.

  20. paique disse:

    Sofia, sou homem negro e te garanto que não há impunibilidade com relação a mim e aos outros homens negros que estão ao meu redor. Justo o contrário: o homem negro gera mais expectativas de que cometerá violência, é mais facilmente entendido como agressor, etc. Ou seja, um agressor negro não está mais imune frente a um agressor branco. Normalmente o contrário.

    Eu, como homem negro, recebo diferentes violências todos os dias. E tenho que saber como lidar com cada uma delas, todas as vezes. Eu não tenho a chance de dizer “agressor” a cada uma das violências que recebo, porque cada uma delas tem seu conteúdo, sua forma, seu contexto e sua relação específica com a estrutura racista do nosso país.

    Eu estava na marcha, como fui em todos os anos. Eu vi a expulsão deste cara, e ví o conflito que surgiu dentro da própria marcha no minuto seguinte. Ví a comissao de segurança em pé de guerra interno e etc. E eu acredito que sei, mais ou menos, como funciona a marcha. Mesmo sendo homem e nunca tendo participado, ouvi muitos relatos de compas próximas. Então não acho que esteja falando localizado em marte.

    Não tenho uma posição fechada com relação ao diálogo com a marcha como as compas pretas candangas tem. Todavia gostaria de ressaltar uma coisa que me chocou na nota e na discussão: logo após a expulsão deste homem negro em situação de rua, mais dois outros homens negros em situação de rua foram expulsos, em menos de 5 minutos. Achei muito estranho ninguém ter citado que foram na verdade expulsos tres moradores de rua que cometeram agressões durante a marcha. E tudo isso em 5 minutos. E tudo isso quando a marcha passava pela frente do pátio brasil/setor comercial sul, local onde essa galera trabalha.

    Acho que a discussão passaria a ter um nível mais sincero, pra mim, se esse fato fosse refletido. Porque a marcha tem uma batata quente nas mãos, batata que é fruto de um problema central pra gente: como os/as de baixo vão lidar com a violência?

    Enfim, não queria despontar nem dar nenhuma palavra mais conclusiva no debate, só apresentar estes pontos. Saudações

  21. […] anteontem a MdV publicou a tal nota. Na minha opinião, não resolveu muito. A nota é longa e bem escrita, mas isso não significa que […]

  22. Alana Ludmilla M. disse:

    Muito boa todas as explicações e, pelo que percebi, a marcha é muito bem organizada!!!
    Como faço para receber notícias sobre as marchas e como faço para participar?! Meu e-mail é: aludmillameira@gmail.com

  23. […] dia 02/07/13 a MdV publicou a tal nota. Na minha opinião, não resolveu muito. A nota é longa e bem escrita, mas isso não significa que […]

  24. […] resposta, dada pelas mulheres que participaram da organização da Marcha das Vadias de Brasília (estou […]

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