Segue abaixo a carta do Coletivo Unificado de Mulheres da UnB que foi lida no dia 14 de março de 2012, após o debate sobre a presença da PM na UnB promovido pela atual gestão do Diretório Central dos Estudantes, “Aliança Pela Liberdade”, que aconteceu no Auditório Joaquim Nabuco. A carta foi muito aplaudida e empoderadora naquele contexto, situado no prédio dos cursos mais elitizados da UnB, em que uma mesa exclusiva de homens brancos discutia um tema tão complexo e que afeta principalmente as pessoas que não estavam representadas ali.
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SEGURANÇA PRA QUEM?!
A falta de segurança da UnB não é – nem será – resolvida pela presença da Polícia Militar nos campi. Assim como não o é em nenhum lugar do DF ou do Brasil. Enquanto gastamos tempo discutindo “PM: sim ou não”, o verdadeiro problema da UnB é mascarado.
Em um universo de mais de 30 mil estudantes, professorxs e servidorxs, temos…
menos de 10 carros para fazer a ronda do estacionamento
50 vigilantes por turno (20 concursados e 30 terceirizados)
120 porteiros terceirizados por turno
rádios e iluminação insuficientes
falta de capacitação
falta de vigilantes mulheres
pouquíssimas linhas de ônibus que adentram o campus (péssimo quadro do transporte público do DF)
Medidas simples poderiam mudar completamente a realidade da UnB. Além de iluminação e capacitação, um exemplo seria o retorno do concurso para o cargo de vigilante, o qual foi proibido durante o governo FHC. Reivindicamos a reabertura desse concurso! O que fazer para dar segurança axs estudantes que precisam pegar ônibus na L2? Colocar mais ônibus circulando dentro da UnB, ora. Entre outras medidas PRÁTICAS simples que melhorariam EFETIVAMENTE a nossa segurança, afinal, como foi dito, a PM está no campus e nada foi resolvido.
Além disso, mais do que ineficaz, a presença da PM representa uma verdadeira interferência no ambiente acadêmico e criativo que é a universidade. Não é preciso falar na ditadura, onde homens fardados, com revólveres e cassetetes, reprimiam e agrediam manifestantes. Basta pegar o exemplo da USP, onde, em 2010 e 2011, a PM invadiu assembleias e manifestações, prendeu, bateu, jogou gás lacrimogêneo em estudantes e servidores e transformou o espaço de debate em prisão.
É por isso que alguns setores da sociedade defendem tanto o policiamento ostensivo no campus, afinal, pra resolver o problema da segurança que não é.
No DF, podemos recordar de que lado estava a PM no Fora Arruda, nas manifestações pelo Passe Livre e do Santuário dos Pajés: não era dxs estudantes! A mesma PM que dá bacú em qualquer negro andando de manhã-tarde-noite pela rua. Ou que assovia para mulheres de mini-saia, em vez de protegê-las. Ou que bate em travestis da W3, em vez de prender quem o faz. Não é essa PM que queremos na UnB, no DF, nem no mundo!
Além de tratar o debate de forma reducionista, como se a segurança dependesse da presença da PM, a gestão do DCE “Aliança Pela Liberdade” até hoje não reconhece o coletivo como interlocutor fundamental para esse debate, por isso nos manifestamos desta forma. E como vocês podem ver, não há nenhuma mulher nesta mesa, debatendo um tema que é tão caro para nós.
Para falar em segurança, precisamos escutar quem mais é vulnerável em sua ausência: mulheres, LGBTs e negr@s. Não adianta um homem branco de classe alta vir falar como é ser mulher, lésbica, travesti, negra e/ou pobre da Universidade de Brasília.
Desde 2011, o Coletivo Unificado de Mulheres da UnB tem se mobilizado! Realizamos atos na L2 e na reitoria, reuniões com o DFTrans, Secom UnB e CONSEG, além de debates sobre o tema da segurança, de forma mais ampla. De 26 a 30 de março, vamos promover a Semana das Calouras do 1o/2012, onde esse é um dos temas centrais. Convidamos todas as mulheres da Universidade a se juntarem a nós, estudantes, professoras e servidoras: juntas somos fortes!
Por uma segurança comunitária JÁ
Livre de racismo, sexismo e qualquer violência!
Contato: coletivodemulheresunb@gmail.com